sábado, 10 de abril de 2010

Meu mundo "crônico"



Fiz meu primeiro livro. Um de crônicas. São 30 delas. Tenho uma grande paixão pelas crônicas desde de quando, há vários anos, cairam em minhas mãos, autores como Fernando Sabino, Joel Silveira, Luiz Fernando Veríssimo e Rubem Braga. Vou passar a postar algumas delas por aqui. A primeira delas é OLHARES URBANOS e faz parte do meu livro O Muro Azul. Sejam bem vindos ao meu mundo "crônico".
Um relógio na parede. O primeiro encontro matinal. O olhar semi-serrado. Pelas pálpebras, o flerte com a hora. Os raios do sol que passam pelas frestas da janela se alongam, lambendo o piso do quarto, os lençóis da cama e os rostos.
O banho. O café. O olhar sobre aquela que ainda dorme. A saída e o caminhar por entre árvores - tão poucas; entre pessoas - tão distantes; entre automóveis - tão frios.
Um banco de ônibus. “Olha o troco!” Estranhos dividem o mesmo espaço, o mesmo quadro; o mesmo olhar sobre a mesma paisagem, diariamente. Rostos familiares, asseados, sonolentos, buscam um motivo que os impulsione, que os faça perseverar naquela rotina. Trocam-se olhares. Banco duro e vazio do lado da janela. “Com licença?” Desconforto democratizado. Olhos tombam vencidos ainda pelo cansaço do dia anterior. Olhar a hora. “Que horas, por favor?”
O canto dos pássaros, o som do vento que assanha as árvores. O riso das crianças. Um olhar para o passado. A cidade que cresce. Não, a cidade que incha; que se derrama e que invade.
O olhar sobre o presente. Mas não um presente qualquer, o presente do modo subjuntivo: “que eu olhe um mundo melhor”. O canto das buzinas, o som dos motores, as vozes que reclamam. Olhando o meu mundo. O banco, a janela emoldurando a paisagem de ontem, de amanhã e, quem sabe, do mês que vem; do ano que vem. Os olhares não se cruzam mais. Viraram cativos dos devaneios, das leituras ou simplesmente do sono. A luz, o sol e o calor participam da leitura. Eu, o sol e entre as mãos, um Fernando Sabino com folhas soltas, gastas e amareladas. O olhar que passeia pelas estradas literárias, pelos campos de verbos, sujeitos e predicados sempre bem iluminados pela manhã, numa terra de sol, de luz e de mar. A minha terra.

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