sexta-feira, 26 de março de 2010

DO LIXO AO LUXO


Esta penúltima segunda-feira do mês de abril já pode representar muito bem a idéia abstrata de viver várias vidas numa só. Falo sobre a comparação da segunda pauta com a quarta – sim, como meu colega do período da tarde não veio trabalhar por motivos de doença, sobrou para mim. A segunda pauta foi exatamente nos salões e corredores da Assembléia Legislativa cearense. Depois da reforma e ampliação do prédio, a “casa do povo” nunca esteve tão bonita, limpa e arrumada. Sim senhor, é de dar orgulho ao povo cearense ter uma casa tão, digamos, chique. Mas chiques mesmo estavam os que participaram do primeiro encontro para a revisão de artigos da constituição do Estado. Ex-governador, deputados, prefeitos do interior, juristas e os legisladores estaduais, além da imprensa em peso, é claro, todos estavam lá. Revisar a carta magna do Ceará é realmente notícia muito importante, sem dúvida. Interessante que logo após o almoço, depois de cumprida a pauta da AL, de escrito os off’s e de tê-los gravado, me dirigi com a equipe para a comunidade Maravilha.

Para quem conhece o lugar não há nada de maravilhoso por lá. Talvez seja o único local da cidade onde existam barracos de dois andares, tipo sobrados. A favela, que fica às margens de um dos canais que corta Fortaleza, é extremamente pobre. A prefeita Luizianne Lins já assinou ordem de serviço para retirada das famílias do lugar (uma centena, mais ou menos). Mas, depois da chuva forte que caiu sobre a Capital, no último sábado, os habitantes de lá padeceram pela enésima vez com a água fétida invadindo os seus barracos.

Então, do chão de mármore de alta qualidade da AL, para o barro ainda úmido da favela Maravilha. Do cheiro embriagador dos diversos tipos de perfumes alocados num mesmo ambiente e de seus donos bem vestidos ao fedor – muitas vezes tb embriagador – do canal de águas mortas e apodrecidas da Maravilha. Por lá, a revisão de leis que os moradores de cá nunca tiveram acesso.

Lembro-me agora de sair do prédio da Assembléia e comentar com o cinegrafista da equipe sobre a qualidade dos veículos estacionados no local. Poucas horas depois estaria fazendo a mesma coisa, só que os carros em questão possuíam apenas duas rodas, tinham as pernas e braços como motor e carregavam dezenas de garrafas plásticas para a reciclagem. Os donos, moradores da comunidade Maravilha.

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